Como viver bem depois da pandemia?
A maioria de nós está insegura com o que estamos vivendo e também receosa com nosso futuro.
Quem não fez planos no final de 2019? Temos o costume de fazer, assim fechamos ciclos, renovamos nossas esperanças com expectativa de um ano melhor.
Com a pandemia ficamos sem chão, tudo mudou, a sensação de falta de controle foi crescendo, começamos a questionar se devemos fazer planos, quando ficaremos seguros, se a vacina será aplicada logo e mais inúmeras questões povoam nossas mentes.
Alguns conseguiram adaptar-se ao distanciamento social, outros sofreram e sofrem muito com ele, outros nem conseguiram fazer o distanciamento por causa do trabalho e infelizmente alguns negaram o que estava e está acontecendo.
Agora temos vacina e lentamente está sendo aplicada na população, porém quando chegaremos à porcentagem suficiente para estarmos mais seguros e imunizados?
Quando vivemos tanta insegurança é importante buscarmos formas de ter algum controle sobre a nossa vida, pode ser tomando todos os cuidados sugeridos pela Organização Mundial de Saúde e cientistas sérios.
História
Na história da humanidade vimos mudanças acontecerem com outras doenças, as pessoas resistiram em aceitá-las, pois, nós temos dificuldade de aceitar o novo, ele nos causa insegurança.
Vamos viajar um pouco na história da humanidade, das doenças e como elas afetaram a vida das pessoas:
A pior epidemia da História, que dizimou meia Europa no século XIV, a peste bubônica tornou necessárias medidas sanitárias praticadas até hoje, como quarentenas, proibições de viagens e intervenções urbanísticas, segundo o historiador Marcos Leitão de Almeida.
“Tarefas muito básicas, como lavar as mãos e limpar a casa, não eram costumes. Foi só com os avanços da Ciência e a descoberta das bactérias que a compreensão sobre higiene passou a ser difundida. Essas práticas sanitaristas começaram como medidas governamentais. Hoje, parece estranho, mas era preciso leis para que as pessoas varressem suas casas e lavassem as mãos. Elas ficaram indignadas! Porque não entendiam muito bem a razão daquilo, afirma Ana Carolina Harada.
“Espaços abertos, bem iluminados, com farta circulação de ar e uso de materiais mais fáceis de limpar foram um reflexo dos surtos de tuberculose no século XIX e princípio do XX, escrevem Nelson Gobbi e Fernanda Pontes.
As pessoas resistiram às mudanças comportamentais e sanitárias, como vemos hoje acontecer, afinal, o novo traz insegurança.
E após, como viveremos?
Novos costumes já estão sendo incorporados, como andar com máscara, lavar com mais frequência as mãos, ter álcool gel por perto, será que isso vai durar para sempre?
A pandemia tem trazido mudanças como o trabalho em casa, o uso das máscaras, o distanciamento social e isso está nos afetando, trouxe mudanças na nossa vida como: a casa deixou de ser só dormitório e voltou a ser o centro do mundo (agora concilia residência, trabalho e escola); a procura por casas, ao invés de apartamentos, aumentou nesse último ano (entre março de 2020 e abril de 2021), as pessoas querem espaço nesse novo centro do mundo, querem se sentir mais livres, pois, o que antes era sinal de segurança, agora virou sinal de prisão. Também espero que traga mais saneamento básico e arejamento de vias e construções, tão necessárias no Brasil, aliás um grande obstáculo ao combate da Covid-19 no nosso país.
“O trabalho em casa poderá ajudar a reduzir o trânsito e os deslocamentos, mas também aumentar a vida em bolhas, que já experimentamos no ambiente virtual”, observa Guilherme Wisnik, arquiteto, ensaísta e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Transição
Estamos no momento de transição e repleto de incertezas: a vacina chegará para todos, teremos outra pandemia?
Estamos expostos a várias situações simultaneamente: medo da infecção ou morte de pessoas próximas, dificuldade para viver o luto (o que impede a adequada ressignificação das perdas), falta de vacinas, desamparo governamental, desemprego, impacto econômico, instabilidade emocional, estresse pela mudança de rotina, bombardeio de notícias negativas, distanciamento das pessoas que amamos e diminuição do nosso bem-estar psicológico.
Provavelmente esse novo momento trará cicatrizes emocionais, teremos mais ansiedade, depressão, estresse pós-traumático, abuso de álcool e substâncias, além do luto pelas 345 mil mortes registradas até agora.
Máscaras serão bem comuns. Talvez paremos de cumprimentar todas as pessoas com beijo e abraço. O trabalho cada vez mais será em casa, mais vídeos chamadas, o que poderá ser um problema para os brasileiros, por ser um povo mais afetuoso.
O que podemos fazer
Façamos todo o possível para que a pandemia nos traga mais resistência mental, produza mais forças pessoais e melhore nossos relacionamentos. Segundo Martin Seligman, “as consequências emocionais não derivam das adversidades, mas das crenças sobre as adversidades”, tomemos cuidado então ao observar nossas crenças, evitemos as limitantes e aumentemos as fortalecedoras.
Momento de mudança do individualismo, tão incentivado, para um pensar coletivo, pois com a pandemia ficou claro que o que acontece em qualquer lugar do mundo chega a nós, estamos cada vez mais interligados.
O desafio será unir o individual com o coletivo, o pensar no outro, na sociedade e não só em si e nos seus.
As mudanças são a maior dificuldade do ser humano, preferimos a segurança do que já conhecemos, no entanto, apesar da insegurança sentida, podemos nos lançar ao desconhecido e aprendermos aos poucos novos hábitos e assim ampliarmos nossos saberes.
É muito importante abrir nossa mente para o novo e a grandeza do aprendizado.