Como fica o amor no feminismo?
Como fica o amor no feminismo?
É muito comum dizerem que feministas odeiam homens, são bravas, são lésbicas, tornam a vida dos homens difícil, querem ser iguais a eles e que são contra o amor. Será isso mesmo?
Feminismo
O feminismo é um movimento que pretende por fim ao sexismo, opressão e exploração sexista. Ele luta para que as pessoas, homens e mulheres, sejam autorrealizadas, podendo assim criar uma comunidade amorosa e realizar o sonho de liberdade e justiça, pois somos todos iguais.
O sexismo é a discriminação de alguém devido ao seu gênero. Se um relacionamento é baseado no sexismo e um dos parceiros domina o outro, pode haver amor em um relacionamento desigual?
Mas vamos voltar um pouco na história, na sociedade primitiva a mãe era o centro, eles desconheciam a participação masculina na reprodução, as relações não eram monogâmicas e todos estavam envolvidos na coleta de alimentos e no cuidado com as crianças. Ter um parceiro era questão de sobrevivência.
Com a descoberta da agricultura começaram a se fixar em um território, os homens caçavam, mulheres cultivavam a terra e cuidavam das crianças, começou a desigualdade.
Já na época medieval, para a aristocracia, o casamento era uma forma de solidificar riquezas e estabelecer alianças políticas.
Até o século XVI, homens e mulheres faziam acordos de morarem juntos e eram considerados casados pela sociedade.
Entre os séculos VI e XI a monogamia se tornou padrão social nos relacionamentos ocidentais.
No século XVIII começou-se a cultivar a ideia do amor romântico.
História do amor
O amor em cada cultura e época se apresenta de determinada maneira, se manifesta com uma série de regras de conduta e a forma de agir diante dessas regras faz você ser visto como amoroso ou não.
O conceito do amor muda conforme a época:
*No início da humanidade o sexo, a reprodução era o principal.
*Antes do início do século XII, na maioria das sociedades, as pessoas se casavam e o amor vinha (?) depois.
*No final do século XVIII, geram-se as condições para o surgimento do
romantismo, que promete uma felicidade graças à qual a pessoa encontra plenitude no encontro com o outro.
*No século XIX, o bonito era o amor que causava sofrimento.
*Nos anos 1960, acontece a revolução sexual e amorosa, até hoje alguns pensam que o amor é um empecilho à liberdade, optam por viver sozinhos; outros acreditam que vão se casar e ser felizes para sempre.
*O movimento feminista contemporâneo surge na segunda metade da década de 1960.
Amor pelo feminismo
A seguir, vou escrever o pensamento sobre o amor de bell hooks, pseudônimo de Gloria Jean Watkins, sempre escrito em minúsculas, escritora e ativista norte-americana e uma das mais importantes intelectuais feministas da atualidade.
Uma das ideias mais destrutivas no pensamento humano é o amor romântico. Esse amor instantâneo, que não precisa ser construído e depende apenas de “química” é algo ruim, pois a cultura incentiva a fantasia, as pessoas não irão atingi-la e vão se decepcionar.
Quando entramos em relacionamentos românticos sem a capacidade de amar e sermos amados, estamos condenando esses envolvimentos amorosos a repetirem nossos dramas familiares.
Muitas vezes entramos nos relacionamentos buscando receber do outro o amor que não recebemos da família, às vezes buscamos que um dos parceiros sustente o amor sem nos envolvermos nesta sustentação. Muitas mulheres são incentivadas, pelo pensamento patriarcal, a acreditarem que são mais capacitadas a serem sempre mais amorosas do que os homens.
Para bell hooks “amor é mais que um sentimento — é uma ação capaz de transformar o niilismo (ponto de vista que considera que as crenças e os valores tradicionais são infundados e que não há qualquer sentido ou utilidade na existência), a ganância e a obsessão pelo poder que dominam nossa cultura. É através da construção de uma ética amorosa que seremos capazes de edificar uma sociedade verdadeiramente igualitária, fundamentada na justiça e no compromisso com o bem-estar coletivo.”
Aprender a amar é uma necessidade, é uma construção cotidiana feita na ação, pois o amor é muito mais que uma afeição profunda por alguém. Segundo o psiquiatra M. Scoot Peck, trata-se de “vontade de se empenhar ao máximo para promover o próprio crescimento ou o de outra pessoa.” A afeição é só um dos elementos do amor, se quisermos aumentar nossa capacidade de amar, bell hooks sugere acrescentar: “carinho, reconhecimento, respeito, compromisso e confiança, assim como honestidade e comunicação.”
Nossa primeira escola sobre o amor é em nossa infância, portanto é fundamental assegurarmos os direitos civis básicos das crianças. Caso contrário, para hooks, “a maioria delas não conhecerá o amor, tendo em vista que não existe amor sem justiça.” Inexiste amor onde há abuso e negligência. É nossa responsabilidade amá-las, reconhecer que elas têm direitos que precisamos garantir e não são nossa propriedade.
Somos ensinados, quando crianças, a não mentir, mas o que vemos é que quem diz a verdade é punido, homens mentem às mulheres para agradá-las e assim mantêm sua posição de controle. As mulheres também mentem para agradar e manipular. A cultura do consumo encoraja a mentira. A partir do movimento feminista, as mulheres compreendem que o poder pessoal se adquire com uma autoafirmação positiva.
Amor-próprio difere do egoísmo, ele é a base da prática amorosa, pois quando damos amor a nós mesmos, oferecemos ao nosso ser interior a oportunidade de ter amor incondicional.
Para despertar o amor precisamos nos desapegar da obsessão por domínio e poder.
“O amor verdadeiro, quando buscado, nem sempre nos levará ao ‘felizes para sempre’ e, mesmo se o fizer, é preciso que saibamos: amar dá trabalho, não é essa história perfeita e pronta dos contos de fadas.” (bell hooks)